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— Daqui não passo. Daqui em diante é com você.
— Espere. E se isso demorar?
— Demorar? Ora, sejamos sinceros: você pode até nem voltar.
— Isso não é problema. Meu problema é darem por minha falta lá em casa e eu me atrasar para o jantar.
— Ora, isso resolvo fácil.
— Ah, é? E como?
— Eu substituo você, ora. Ninguém vai notar.
— Isso não é possível. Quem você pensa que é, afinal?
— É possível, sim.
— Ninguém pode se passar por ninguém. Isso é errado.
— Ora, quem fala.
— Ora quem fala o quê?
— Não vai me dizer que você nunca...
— Nunca o quê? Fale.
— Se você deixar, eu falo, rapaz.
— Desembuche.
A partir do desejo do menino Ícaro, o escritor Sidney Rocha nos apresenta uma emocionante história, a mais imaginosa, sobre a amizade.
No lastro destas aventuras, vemos nosso herói enfrentar o terrível e fedorento Sanchausen numa longa travessia por mares nunca antes imaginados. A toda hora, Ícaro terá de enfrentar seus medinhos, medos e medões, avançando sobre perigosos portais.
Nesta história emocionante sobre o valor da verdade, importante, sobretudo, para os tempos atuais, torça para que nosso Ícaro consiga atravessar o assustador mundo das Ilusões, com seus habitantes os mais incríveis: “a luz mais parecida com a realidade é a luz da ilusão”, diz o companheiro de Ícaro nessa insólita viagem, personagem que preferimos não revelar o nome agora porque, ao contar, simplesmente, você não iria acreditar. É preciso ver com os próprios olhos, sentir com seu próprio coração.
Em águas do Mar Sulfúrico, numa canoazinha quase-nada, lute ao lado do nosso pequeno Ícaro que, conduzindo uma horrível encomenda, tem de negociar a própria vida com sereias horripilantes, entre outros perigos.
Ele precisará aprender a se tornar esperto para não cair nas goelas de tubarões com dentes mortais, ou em algo pior.
São tantas as aventuras de Ícaro, que preferimos deixar você com a leitura desta narrativa, que já nasce clássica para a literatura brasileira.
E não se esqueça deste nome: Sandchausen. Na verdade, ao final, você vai tentar esquecê-lo.
Mas não conseguirá.
Sidney Rocha é escritor, editor e educador. Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco por sua atuação na educação e na defesa da leitura literária nas escolas. Seus textos foram traduzidos na Alemanha, Argentina, Colômbia, Estados Unidos e Portugal, onde recebeu o Prêmio Guerra Junqueiro, pelo conjunto de sua obra.
Escreveu os contos de Matriuska (2009), de O destino das metáforas (2011, Prêmio Jabuti) e de Guerra de ninguém (2015), além do romance infantojuvenil Sofia (Prêmio Osman Lins), (2014), e da trilogia “Cromane”: Fernanflor (2014), A estética da indiferença (2018) e Flashes (2020), todos publicados pela Iluminuras.