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— a grade do jardim é arrancada pelo mar
arrancada e logo colada por ele no mesmo lugar
em pé
e apenas úmida de sereno
— o mar dá um chute no portão de alumínio
mesmo sem tocá-lo
mesmo sem salpicá-lo de espuma
Neste livro a escrita real é imaginária. O traço sancionado e o traço fantasioso se misturam e fluem juntos.
Esses traços são o poema, que é feito, assim, de muitos poemas reais e imaginários.
Atribui-se o poema ora impresso ao Jardineiro Doudo, cuja obra é atravessada por um ou vários rios: o rio Apa, o rio Sena etc.
Guillaume Apollinaire, um típico francês imaginário nascido em Roma com outro nome, sonhava colorir os seus famosos caligramas; aqui, todos (ou quase todos) os caligramas estão doudamente coloridos.
Esses caligramas sugerem (de perto e de longe) um curso de água que se perpetua e se diversifica; às vezes, a água é atravessada por pontes. As florestas e as cidades acompanham o rio, e alguns caminhos o cruzam...
Com as suas canções furiosas e os seus cartazes festivos, o povo doudo percorre esses caminhos...
Nessas canções e nesses cartazes desliza a arte imaginariamente real do Jardineiro Doudo, ou Dodo, como o chamam os ingleses, numa tradução do nome “doudo”, português legítimo, para o seu idioma.
Por isso o doudo real protesta quando os brasileiros o tratam equivocadamente de Dodô ou Dodó.
Sérgio Medeiros