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“Vocês precisam entender que nada disso está acontecendo.” A distinção entre real, fictício e imaginário se quebra neste livro por meio de um excesso de efeitos de real que impressionam pelo absurdo da situação, ao mesmo tempo em que a impressão de absurdo é liminarmente desfeita, num lance contra a banalização do imaginário e a favor de uma consideração mais sensata sobre a concretude da existência humana.
O excesso orgíaco do texto romanesco de Arturo Gouveia convida o leitor a no mínimo dois tipos de evocação: um, a música barroca; outro, a obra de Georges Bataille (1897-1962) e suas noções de dispêndio e de erotismo. Essas evocações se unificam na dimensão religiosa em cada detalhe desse livro também ele barroco e exuberante. Tudo é linguagem, tudo é religião; mas o leitor começará a desconfiar dessas verdades quando se perguntar, em meio às astúcias da razão narrativa empenhada aqui, sobre a realidade da juíza, interlocutora constantemente pressuposta do narrador. Entre a ficção literária e a realidade jurídica, não estaria Arturo Gouveia, com essa obra, exigindo um lugar ao lado de Franz Kafka?
Abrahão Costa Andrade
ARTURO GOUVEIA é professor titular da Universidade Federal da Paraíba, no curso de Letras. Nascido no ano de 1963, em João Pessoa, vem-se dedicando à elaboração de textos artísticos no campo da ficção narrativa. Possui dois livros publicados pela Iluminuras: O mal absoluto (1996) e A farsa dos milênios (1998). É autor também de O Evangelho segundo Lúcifer (2003) e As trevas intactas (2005), ambos em processo de reescritura para nova publicação. Atualmente, está concluindo mais uma reunião de contos, Interlúdio das ficções, a ser publicado em breve. Canibalismo de outono é o seu primeiro romance.