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Todas as histórias são relato fiel das caçadas de um conterrâneo nosso em todas as selvas, desertos e mares do novo e do velho mundo.
Com esta advertência, Dum Dum apresenta suas Cartas de um caçador. Logo se percebe que é um caçador de verdade, e disso não faltam provas.
A principal delas é que ele não apenas viveu as aventuras, como também decidiu escrever este livro para contá-las. Dum Dum é o caçador que nos guiará por suas caçadas e peripécias na selva. E o que se pode esperar de um caçador-escritor assim? A mesma coragem de seu criador, o uruguaio Horacio Quiroga(1878-1937), um escritor barbudo que um dia resolver ir viver na selva, no povoado de San Ignácio, em Misiones, próximo à tríplice fronteira entre Brasil , Argentina e Paraguai. Lá, há quase cem anos, Quiroga construiu uma casa de pedra, onde plantava palmeiras, bananeiras e criava serpentes, e que continua em pé até hoje, enfeitada com muitas das peles e couros que caçou seu personagem-escritor Dum Dum. As cartas que Dum Dum mandava lá de San Ignácio para seus filhos foram todas publicadas na revista infanto-juvenil de Buenos Aires Billiken e na revista Mundo Argentino, entre 1922 e 1924. Hoje, os jovens leitores do Brasil além de se deleitarem com as aventuras do caçador, vão conhecer também as selvas da América Latina, com seus bichos como a onça pintada, a suçuarana, a jaguatirica e o condor – que nessa época viviam soltos pelas matas, e não presos nos zoológicos. Conhecer a selva em que viveu Quiroga pelas cartas de Dum Dum é uma experiência de desvendar um mundo próximo, primitivo, cujo valor máximo é o da experiência e o da sobrevivência. Ler as cartas de um caçador nos mostra que, apesar de distante, o mundo da selva é o nosso mundo também. Dum Dum é um caçador de verdade. Quiroga, um escritor de verdade. Sorte nossa eles terem se encontrado na selva de Misiones para nos contar estas histórias...
Wilson Alves-Bezerra