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As inovações tecnológicas estão alterando em alta velocidade a ideia de cultura e o próprio sentido de vida humana. A produção de bens culturais nunca foi tão intensa, o consumo de cultura assume novas formas e profissões aparentemente estáveis, como as de analista financeiro e crítico de arte, são hoje substituídas por programas de computador – do qual o cérebro na mão é sua metáfora mais aguda. O ser humano começa a ter uma vida mais longa num ambiente cada vez menos amigável enquanto a humanidade, anotou Walter Benjamin há um bom tempo, prepara-se para sobreviver à civilização. Neste texto breve e intenso, Teixeira Coelho traça um quadro da cultura contemporânea e das forças que a tensionam.
Se for possível explicar a um viajante do tempo, ou a um contemporâneo, o que é e o que faz um telefone celular, será possível entender o que é a cultura contemporânea e sua dinâmica. Explicá-lo pode não ser tarefa simples; mas é viável pelo menos desenhar dois grandes quadros da dinâmica cultural atual, um relativo a seu hardware – materializado no sistema de produção cultural – e o outro referente ao software que define o conteúdo desses bens culturais e os modos de sua formação e disseminação. Hoje as pessoas literalmente andam com um cérebro sempre disponível na mão mesmo se pareça faltar uma conexão com o cérebro que fica sobre os ombros. Essa reconexão, caso se faça, dificilmente poderá evitar a reintrodução em cena de um velho ator social, o valor, e o descarte de antigos conceitos e programas hoje saturados em sua concepção e efeitos. As reflexões deste livro assumem a forma de ideias experimentais partindo do pressuposto de que é sempre necessário fazer novas perguntas para obterem-se novos resultados, particularmente num campo como o da política cultural acostumado à repetição de velhos conceitos que geram respostas consagradas mas nem por isso adequadas.
Homero já descrevia, na Ilíada e na Odisseia, os autômatos de Hefaístos que, com o dom de pensar, falar e fazer, e parecendo pessoas vivas, andavam por si sós ao redor de seu construtor facilitando-lhe as tarefas. Esse velho sonho da humanidade realizou-se mais do que seria possível esperar – e ao mesmo tempo vale lembrar que é sempre preciso ter cuidado com o que se deseja. Com o cérebro na mão é um breve ensaio sobre este tempo radical cheio de promessas de vida ampliada e, no entanto, instável e incerta.
Teixeira Coelho é autor, entre outros, de A cultura e seu contrário, Dicionário crítico de política cultural, Usos da cultura (no prelo), e das narrativas Niemeyer: um romance, História natural da ditadura, O homem que vive e Colosso, todos por esta editora.