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O uruguaio Horacio Quiroga (1878-1937) é considerado o primeiro grande contista de língua espanhola. Era chamado por alguns de “Poe latino- americano” e foi influência para autores como o argentino Julio Cortázar (1914-1984) e o catalão Enrique Vila-Matas (1948).
Contos de amor de loucura e de morte (1917) foi seu primeiro livro de contos e é muito representativo de sua obra, por trazer narrativas de um período de dez anos: nele há textos que mostram a influência de Poe, como A galinha degolada, O soli tário e O travesseiro de pena – que figura em todas as boas antologias latino-americanas de terror. Outro conto fundamental é À deriva (1912), que traz uma narrativa tensa e delirante sobre um homem picado por uma cobra peçonhenta no meio da mata.
Os pescadores de toras e Os mensais antecipam a produção futura de Quiroga e relatam a exploração dos índios e peões nas selvas argentinas e paraguaias no início do século vinte. Há ainda perturbadoras histórias de amor como A meningite e sua sombra, A morte de Isolda e Uma estação de amor.
A variedade de temas sempre foi uma marca de Quiroga, que publicava seus contos em revistas de grande circulação, lidas por públicos diversos.
A escrita frequente e os prazos da imprensa não lhe eram alheios: publicou mais de duzentos contos em revistas, mas só preservou em livro aqueles que julgava perduráveis. Suas narrativas capturam o leitor nas primeiras linhas e avançam sempre de modo tenso; o desfecho, embora possa surpreender, já estava prefigurado desde o início do conto.
Como dizia o crítico e escritor argentino Ricardo Piglia em suas Teses sobre o conto: um conto conta duas histórias e a arte de narrar consiste em cifrar a história secreta nos interstícios da história aparente, revelando ao fim uma narrativa já sabida mas, que, ainda assim, desestabiliza o leitor.
Tal é o procedimento dos contistas clássicos e Horacio Quiroga o realiza com mestria.
Boa leitura.
Wilson Alves-Bezerra