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CONTRACORRENTE

FREDERICO BARBOSA

  • R$ 59,00

*LIVRO VENDIDO NO ESTADO.

 O livro pode conter pequenas manchas em função da ação do tempo.

Não será permitida troca do livro, exceto em caso de defeitos gráficos.


O primeiro livro de Frederico Barbosa, rarefato, começa por uma sequencia intitulada “a consciência do zero”; e este acaba com o zero de uma contagem regressiva bastante amarga a propósito da chegada do ano 2000. Não por acaso, é claro. A negatividade percorre a sua obra, manifestando-se como angústia existencial, como asco em relação ao estado da sociedade, mas também (pressentimos) como angústia quanto à fatura. Neste último caso ela tem algo de mallarmaico, como se o poeta soubesse que é preciso escrever, mas que a escrita corre o risco de dar em nada. A consequência é uma crispação traduzida em poemas que parecem as vezes conscientes do seu caráter de tentativa, não mais do que tentativa. Isso é visível sobretudo nos dois primeiros livros, o citado rarefato e nada feito nada, em cujo título revelador a letra o foi expressivamente destacada como zero pelo projeto gráfico. Neles, parece haver um esforço de experimentar que lhes dá por vezes certo ar de exercício. Sob este aspecto, contracorrente é uma alteração muito positiva de curso e uma prova da capacidade de realização pessoal.

 Aqui o poeta parece estar além da pura experiência e plenamente integrado na sua personalidade poética.

 Simplificando, é possível dizer que passou do bom ao melhor, e do correto ao criativo, porque conseguiu manter a forca da aventura formal sem deixar que ela desse a impressão de ser sobretudo jogo. E nós sabemos que um dos perigos da poesia, não apenas a de hoje, mas a de todos os tempos, é parecer mais jogo do que instauração. (perigo tanto maior quanto há nela uma indispensável componente lúdica).

Ora, Frederico Barbosa instaura, isto é, elabora e torna sugestiva uma realidade que é posta acima do real, mas permanece fundamente marcada por traços pessoais e pelas representações do mundo, de maneira a construir uma visão própria, a partir da auto visão. Para muita gente em nosso tempo, isso cheira a mensagem subordinada a intuitos extra poéticos, mas na verdade é a mais profunda razão de ser da poesia.

Neste livro há coragem de falar dó eu e do mundo, mas de maneira que eles apareçam como invenções, não reproduções. Frederico Barbosa é capaz de reinventar, dentro de parâmetros que deixam para trás muitas convenções e lhe permitem fazer algo novo.

É o caso do modo de tratar a cidade, que neste livro é não apenas presença concreta, mas pressuposto, como segunda natureza no mundo contemporâneo. É notável, por exemplo, a originalidade com que mostra, ou com que incrusta na filigrana dos versos, uma São Paulo toda sua, com novos cursos d’água criados como fantasmagoria pelas doenças da urbanização. Mas esta São Paulo é também presença latente em cenas e emoções. De tal modo que a cidade cantada pelos modernistas é renovada como dura paisagem, enquadrando uma experiência pessoal crispada, como convém a este tempo calamitoso.

Do mesmo modo, os estados da sensibilidade e da inteligência são submetidos a uma espécie de endurecimento, que lhes dá, por um lado, certo toque de áspero inconformismo; por outro, os tira do estado potencial de confidência para torná-los objetos poéticos, que valem por si, tornando-os bens de todos. Isso é devido em parte ao certeiro golpe de vista sobre as coisas e à notação sintética dos modos de ser, ambos reduzidos ao essencial.

Frederico Barbosa é capaz de ver o mundo e a si mesmo num relance preciso; e de representar este relance com laconismo sem concessões, produzindo o impacto que se espera dos bons poetas. Daí a faculdade de instaurar, a que me referi, graças à qual ser e mundo se transformam em realidades poéticas que os transcendem.

Deixando de lado realizações mais ambiciosas, veja-se como exemplo esse flash que é o perfeito poema “jeans". A sua descarnada singeleza provem das qualidades que acabo de sugerir. Elas permitem transformar a sensação em emoção e esta em objeto poético, que já não é mais a moça que está na sua origem e serve para demonstrar a força desse poeta mergulhado na "cidade tentacular”. A sua modernidade se mostra não apenas nessas breves transfigurações do cotidiano, mas na presença dos livros, das alusões eruditas, das citações, isto é, do denso munda da cultura que lhe servem de estímulo e constitui, também, uma segunda natureza. Por estas e outras, este terceiro livro mostra que o lugar de Frederico Barbosa é entre os verdadeiros poetas da sua geração.

Antonio Candido


A invenção e o rigor na poesia brasileira, durante as últimas décadas, se associam diretamente à obra de João Cabral De Melo Neto, bem como à maior revolução na poesia mundial do período, única proposta estética jamais surgida no Brasil e único momento em que esse país esteve na vanguarda da arte no mundo: A Poesia concreta.

Minha busca, na poesia, centra-se exatamente na invenção e no rigor, e, portanto, parte do ponto em que as obras de João Cabral, Décio Pignatari, Haroldo e Augusto de Campos deixaram a arte. Pretendo jogar, porém, adiante. Esta é a missão de todo artista. Nunca retroceder, nunca ceder: buscar novos caminhos. Talvez encontrar uma forma inovadora de retrabalhar a rica herança que a tradição do rigor poético, sempre contra a corrente da facilidade falastrona, nos deixou.

Arrisco lançar minha Contracorrente nesse mar de “correção” retrógrada que tem dominado a nossa poesia nos últimos tempos. Além da verborragia pseudopoética de sempre, leem-se às pencas poemas “certinhos", “bem feitinhos”. Mas onde está a poesia pungente, que fere, que coloca o dedo nas feridas? Feridas da linguagem e — Por que não? — da vida.

Aí vai essa contracorrente, na esperança de que possa representar uma luz ou — uma pedrada, o que é bem melhor — na estagnação poeticamente correta de hoje. Ou, pelo menos Incomodar os acomodados De todos os lados.

Frederico Barbosa

 

Frederico Barbosa nasceu em Recife, Pernambuco, em 1961. Seu primeiro livro, rarefato (editora Iluminuras, 1990), foi escolhido pelos jornais o estado de S. Paulo e o estado de minas (Belo horizonte) como um dos melhores livros do ano. Seu segundo livro, nada feito nada (editora Perspectiva, 1993), foi publicado na coleção signos, dirigida por Haroldo de Campos, e ganhou o prêmio Jabuti, da câmara brasileira do livro. Nos últimos anos, seus poemas têm sido traduzidos e publicados em coletâneas de diversos países, como os Estados Unidos, Austrália, México, Espanha e Colômbia. Em 2000, lançou a coletânea cinco séculos de poesia, antologia da poesia clássica brasileira, pela Landy editora.        


 

Autor(a) Frederico Barbosa
Nº de páginas 64
ISBN 85-7321-126-1
Formato 14x19 cm

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