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Criação em processo reúne estudos de críticos literários a respeito da gênese da literatura relacionada à corrente literária denominada “crítica genética”. Os autores dos ensaios que compõem este livro são responsáveis pela formulação dos princípios teóricos, metodológicos e pela prática da edição genética tal como conhecemos hoje.
A criação artística sempre esteve ligada a um certo mistério, pelo menos na cultura ocidental. Para escrever, o poeta devia ter uma iluminação mística – a inspiração – ou ser tocado por uma espécie de deusa – a musa. Quem ousasse descrever de outra maneira esse momento poderia ser tratado como herege.
Paris, maio de 1968. Sob o barulho dos protestos de estudantes, um grupo de pesquisadores resolveu cometer essa heresia. Surgia assim a crítica genética, disciplina que propunha refletir sobre o processo de criação através do estudo dos manuscritos. Ela não tinha pretensão de “explicar” a criação, nem dar as chaves para a genialidade desse ou daquele autor. Seu objetivo era transformar o processo em um valor, conhecer suas etapas, identificar mudanças, determinar tendências. Dessa forma, deixava-se de encarar a criação como um mistério, para concebê-la como trabalho.
Quase duas décadas depois, a heresia cruzava o Oceano Atlântico e formavam-se os primeiros grupos de estudos genéticos no Brasil. Além do lento trabalho de consolidação de acervos de manuscritos, aqui, a criação levantava outras questões: a necessidade de pesquisa em diferentes áreas, como as artes plásticas e a música, e a interface com outras disciplinas mais teóricas, como a semiótica e a psicanálise.
Esta antologia de textos de crítica genética pode ser vista como um diálogo entre os núcleos francês e brasileiro da disciplina. Um diálogo que se move nos limites do texto, da crítica genética e da própria arte. Porque a reflexão sobre a gênese também não pára de questionar os conceitos já estabelecidos da crítica, como mostram algumas das perguntas – ou provocações – encontradas neste livro: “É possível definir um conceito de texto?”, “Em face da multiplicidade de textos possíveis, o que define a noção de autor?”, “Qual o papel da leitura na criação?”, “O que é o sujeito da escritura?”, “Quais são os movimentos comuns a todas as criações?”, “Como as artes e os gêneros se definem em relação à sua elaboração?”, “Que alterações acarretam as novas tecnologias no processo de escritura?”, “Qual a relação do tempo da escrita com o tempo da história?”.
As respostas, certamente, não estarão em uma linha ou frase que dará a chave final para o nosso mistério, mas em um outro processo, que se inicia com a leitura destes ensaios.
Claudia Amigo Pino