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TEMA: Descoberta de si
GENERO: Poesia, poema, trava-línguas, parlendas, adivinhas, provérbios, quadrinhas e congêneres
CÓDIGO 1349 P23 03 01 000 000
CATEGORIA: 1º ao 3º ano do ensino fundamental / 1º ao 3º ano do ensino fundamental1º ao 3º ano do Ensino Médio
OBRAS
978-65-5519-140-0 (Estudante)
978-65-5519-141-7 (Professor)
Carta ao professor
Esperamos, com este material, auxiliar os professores no trabalho com o Ensino Fundamental I em sala de aula. Cultura, do poeta e compositor Arnaldo Antunes, é um livro singular por vários motivos e possibilita atividades didáticas interessantíssimas, como vocês acompanharão a seguir.
O poema presente nas páginas deste livro aborda, por meio de jogos linguísticos, figuras de linguagem e as ilustrações de Thiago Lopes, a (re)descoberta do mundo e das coisas que o compõem. Os detalhes dos animais e dos elementos da natureza se organizam para aquele que os vê, com um olhar poético, de modo particular. A coisa em si nunca é simplesmente o que a palavra diz As relações que estabelece não são as categorizadoras, que buscam uma padronização das diferenças. O nome de uma coisa leva a outros lugares, e a outras coisas. É da relação entre essas descobertas que nasce o primor estético desta poética.
Neste manual, vocês encontrarão atividades que procuram trabalhar o aprimoramento do olhar poético dos alunos e alunas. Partimos do pressuposto muito válido de que não são só os poetas consagrados, como Arnaldo Antunes, que possuem tal capacidade. As crianças, principalmente, têm até uma maior liberdade na lida com o fazer poético. Talvez por estarem menos moldadas do que os adultos às convenções sociais que, na contramão do que este livro propõe, não admitem polissemia nem criatividade entre as coisas e as palavras.
Acreditamos fortemente que o trabalho da competência linguística e artística é essencial para a formação de um indivíduo saudável intelectual e socialmente. E é desta premissa que partimos para a elaboração deste manual!
Esperamos, professores, que este material sirva como um guia para seu trabalho em sala de aula. Já contamos, no entanto, com as adaptações que surgirão organicamente na recepção do mesmo por vocês, que possuem trajetórias e escolhas didáticas específicas, bem como no contato com os alunos, que tanto têm a oferecer para o enriquecimento da experiência didática.
Boa aula!
Sobre o livro
Cultura é um livro de poesia e ilustrações que contêm o poema homônimo espalhado por suas páginas. Neste poema, o mundo natural é apresentado a partir de um ponto de vista poético. É quase como se uma criança estivesse descobrindo pela primeira vez os animais e elementos da natureza e fosse nomeando as características que veem. “O escuro é a metade da zebra”. “O cavalo é pasto do carrapato”. São formas não habituais mas válidas e com valor estético de dar sentido ao mundo à volta.
Vale lembrar que este poema faz parte do livro As coisas, o terceiro de poesia de Arnaldo Antunes. São ao todo 42 poemas que acompanham “Cultura”.
O poema inicial, “Abertura”, serve como uma introdução ao que será apresentado a seguir: um caráter sobretudo prosaico e narrativo.
Todos eles traziam sacolas, que pareciam
muito pesadas. Amarraram
bem seus cavalos e
um deles adiantou-se
em direção a
uma rocha e gritou:
“Abre-te, cérebro!”
Neste poema, vemos uma referência intertextual à história de Ali Babá e os quarenta ladrões. Lá, Ali Babá observa a chegada, a cavalo, de quarenta ladrões que trazem sacolas aparentemente muito pesadas. Param à frente de uma rocha e, para que possam adentrar na caverna do tesouro, devem falar as palavras mágicas: “Abre-te, sésamo!”. Destas palavras reverbera a abertura da porta secreta. A parte inicial do poema, narrativa, poderia mesmo ser retirada da história. O último verso, porém, causa estranheza e prepara o leitor para os poemas que encontrará no livro.
A ordem dada pelo poeta, na última linha, é: “Abre-te, cérebro”. Isto serve como uma indicação metafórica de que o cérebro se encontra fechado como uma rocha, e para receber, ou ler, poesia necessitaria ser, ou estar, aberto e receptivo. As “sacolas, que pareciam muito pesadas” podem ser entendidas, metaforicamente, como os poemas do próprio livro, que, no caso de o “cérebro” estar aberto, poderão ser descarregados e acumulados com o restante do tesouro que se encontra guardado — o conhecimento.
É uma característica de Arnaldo Antunes realizar estes jogos linguísticos. Assim como no poema anterior, o ludismo encontrado em “Tudo”, na página 24, é como se fosse uma descoberta infantil a respeito da noção da palavra homônima ao seu título:
Todas as coisas
do mundo não
cabem numa
ideia. Mas tudo
cabe numa
palavra, nesta
palavra tudo.
Tudo é uma palavra que pode abarcar a totalidade das coisas ou seres. Por mais que se queira, é praticamente impossível abarcar “todas as coisas do mundo…numa ideia”, mas esse vocábulo pequeno pode ser tão abrangente e genérico como o vocábulo coisa, normalmente utilizado para indicar qualquer objeto inanimado, e por vezes animais e pessoas. O jogo poético reside no fato de uma “palavra” ter a capacidade de conter “todas as coisas do mundo…tudo”. É como se fosse uma descoberta, por parte de uma criança, do poder que as palavras possuem. Esta é, aliás, uma característica constante do livro. Os poemas funcionam como uma descoberta de mundo e das coisas que nos cercam, como se fossem ditas a partir do ponto de vista de uma criança, com uma linguagem simples, direta e objetiva.