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As novelas do O delicado abismo da loucura têm em comum a mesma geografia: Santo Antônio do Salgueiro. Essa marca de origem se constitui em uma referência fundamental para entender o Nordeste de Raimundo Carreiro. Não há regionalismo na sua literatura. Há geografia (como para Sear, Onetti, faulkner, entre tantos outros). Mas é a única marca, sua cor local.
Suas construções são míticas, imagens básicas, elementares, que nos conduzem, pela sofisticação da composição, à totalidade. Seu mundo é o universo da tragédia, e seus antecedentes literários estão presentes todo o tempo nestes textos. Nada que não possa conter a literatura de 1930, ou seus sucedâneos, que se integram como paisagem afetiva, como detalhe, nunca como centro. Esse equívoco de interpretação deve ser desmanchado, pois a narrativa de Carrero busca, em sua particularidade sertaneja, um sentido universal. O que talvez confunda seus leitores é que o início literário de Carrero não é a cidade letrada, nem o letrado provincianismo de alguns textos de Juan José Sear, por exemplo.
Em Carrero, o mundo da cultura é suplantado por efeitos religiosos e bíblicos, o que faz que a narrativa se torne rarefeita, primária como suas personagens, recursos que permite que o sentimento trágico irrompa como uma avalanche metafísica. As palavras são tocadas, na sua condição material, como diria Lezama Lima, por uma oralidade reconhecível, tátil como uma chaga que brilha na acossada escuridão. Sua obra posterior contém a mesma base. É assombrosamente fiel às suas origens, a essa percepção original sem a qual não é possível construir uma obra.