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Sucesso de crítica e público, este romance de Sylvia Molloy é finalmente entregue ao leitor de língua portuguesa. Em breve cárcere, cujo título quevediano, é, ao mesmo tempo, emblemático do amor e de sua fixação na escritura. O romance narra, num âmbito fechado, de sóbria e rigorosa nudez, o tecer e destecer da lembrança (compulsiva, violenta, arrasadora) de um amor vivenciado, mas distanciado, e aqui recuperado pelo ato de narrar. Entre a solidão inerme, desgarrada e áspera, o corpo, Só, se descobre a si mesmo na câmara escura do texto e da memória. O completo domínio do material e a nitidez desolada e lúcida com que é traçado o desenho dessa história de amor e assustadora violência moral, colocam Sylvia Molloy como uma das revelações mais Surpreendentes e sólidas da narrativa atual.
Em breve cárcere, titulo extraído de um verso de Quevedo, designa o refúgio, as quatro paredes de um quarto, a cela de um centro de reconstituição das memórias da narradora deste romance. Em breve cárcere é um espaço de busca, de reivindicação do feminino, análogo ao de A room of one’s own de Virginia Woolf. A argentina Sylvia Molloy recorre, neste romance de 1981 que revitaliza o universo da sensibilidade lésbica, a um fluxo narrativo proustiano, em que tenta recuperar as vivências passadas: as familiares, as de infância e, sobretudo, as amorosas. Para a narradora, a escrita é uma forma de exorcismo e de vingança na luta pela transfiguração dos fatos vivenciados. Assim, o romance acaba sendo a evocação de uma ausência que vai sendo preenchida por uma narração sempre prestes a apreender as experiências e as sensações do passado. As amantes da narradora, Vera e Renata, são as protagonistas de um clima amoroso quase onírico, no qual se entrelaçam totalmente escritura e história. Os desencontros, abandonos, reencontros e sonhos são os núcleos dispersos que delineiam uma sensibilidade felina e intensa. Em breve cárcere é também o registro da leitura do próprio corpo por um sujeito que dita e reconstitui a ordem fragmentada do texto e do universo em torno da fenda, da fissura, do talho, da amputação. E, ao mesmo tempo, com instrumentos afiados (navalha, serra) estilhaça o tecido narrativo no lirismo de uma memória entrevista pela escrita. "Hoje escreve e gostaria de escrever-se e ler-se num corpo", diz a narradora. Da consciência da fragmentação mnemônica Sylvia Molloy produz a derrota da reconstituição do passado, transformando-a simultaneamente em grande triunfo do romance.
Jorge Schwartz
Sylvia Molloy nasceu em Buenos Aires em 1938. Estudou Letras na Sorbonne, onde se doutorou com a tese La difusion de la littérature hispano-américaine en France, publicada em 1972. Vive nos Estados Unidos há 27 anos, interrompidos por longas estadas em Paris e por rituais retornos à Argentina. Foi professora de literatura hispano-americana no Vassar College, na Universidade de Princeton, na de Yalee atualmente é professora da mesma matéria na Universidade de Nova York. É autora de Las letras de Borges (1979) que foi traduzido para o inglês, de At Face Value: Autobiographical Writing in Spanish America (Cambridge University Press, 1991) e editou Women's Writing in Latin America: An Anthology (Boulder: West View Press, 1991) e de importantes artigos sobre narrativa contemporânea.