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Esta é provavelmente a última reunião de poemas inéditos de Paulo Leminski.
Ainda uma vez, sua maior interlocutora, a poeta Alice Ruiz S, fica com a parte mais difícil – reandar estes caminhos, trilhar pela via da ternura, sem perder o rigor jamais, as fabricações febris deste que é um dos poetas fundamentais de uma geração que nos deu, entre outros, Caetano Veloso e Antônio Risério, João Câmara e Júlio Bressane.
A Alice (e também a Áurea Leminski) devemos a garimpagem que aqui se expõe, o gosto da escolha que não me pareceu nenhuma vez arbitrária. Diálogo mudo este que se estabelece de coração para coração. Mas ainda diálogo pelo que a memória deixa posto em código na trama da vida, para além da morte, de qualquer morte. Impossível, pois, a recusa em reconhecer nesse trabalho aparentemente “menor”, a sua inextricável grandeza. Tarefa duríssima, ninguém duvida, responder quantos Leminskis cabem num só Leminski.
E o que floresce nestas páginas, é ainda e sempre, o mesmo Leminski; se bem que um pouco errante, nômade, e outras tantas exilado de si mesmo, no poema como na vida, o Leminski que lemos continua sendo o inventor afiado dos mais finos uivos disonantes. O ex-estranho. Aquele que se reconhece a cada verso como uma coisa ida, como uma coisa indo. Há aqui, muitas vezes, um frisson de vida esfolada vida. Mas tudo é vida, ou “mágua” ao redor de um fado.
Mesmo na lírica amorosa (“parte em am/or”), datada em tempos diversos, o poema se que à espreita, uma aranha que fiasse todo o segredo da teia sem deixar de exibir, ao final e ao cabo, o triunfo da vigília. A ciência da aranha? Uma artesania de sustos.
O ex-estranho. Em que ilha Paulo Leminski cifra esta estética de arrepios? De signos entrecortados pelo dom da surpresa, animados pelo amor súbito, ao lúdico e ao abismo – um sopro melancólica estância seresteira que é, sabemos, o país.
Este, senhores nem parece um livro póstumo tanto continua vive nele a graça cheia de graça do poeta Paulo Leminski.
Wilson Bueno
Paulo Leminski, Curitiba, Paraná, 1944-1989. Poeta multimídia, transitou em diversas áreas: poesia, prosa, tradução, publicidade, artes gráficas, quadrinhos, TV e música popular.
Publicou vários livros, entre eles pela Iluminuras: Catatau (romance), Agora que são elas (romance), Metaformose (prosa) e Winterverno (poesia).