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Este livro renova uma tradição crítica pessoana que se foi tornando rara. É aquela que abarca a obra inteira de Pessoa, todas as suas implicações históricas, todos os seus autores fictícios e experiências fragmentárias, para tentar desenhar-lhes uma unidade.
Foi esse o desejo de João Gaspar Simões, de Eduardo Lourenço, de Agostinho da Silva, de Jacinto do Prado Coelho ou de Teresa Rita Lopes. E foi rareando porque a própria complexidade da obra de Pessoa, de que nos últimos anos têm sido conhecidas novas facetas, obriga a seguir só por uma certa via, tentando analisar uma certa temática, escolhendo um heterônimo ou um problema.
Mas não foi essa a ambição de Haquira Osakabe, que aqui toma em consideração a obra inteira em todos os seus meandros e direções, com uma força interpretativa que nela desvenda correntes que a transportam e lhe dão alcance.
Usa, para isso, de uma prosa sintética, quase epigramática, que dispensa excursos demonstrativos ou discussões sobre contextos culturais e históricos, indo direto aos poemas para os tratar como atores de um grande teatro em que se movem com a precisão de um bailado.
E a história que os vemos contar é a história profunda da imaginação de Pessoa, um mundo de ficção que contém em si todas as grandes preocupações científicas, morais e religiosas do homem moderno, mas sem a mais leve sombra de banalidade. Um mundo que é, ao mesmo tempo, exemplar e ímpar: e mostrar essa coincidência é um grande gesto poético, além de crítico
O mais, são as análises de cada um dos poemas importantes, que são lidos em si mesmos, na sua textura própria. Constituem, por um lado, passagens escolhidas por se enquadrarem na linha geral de revelação que Haquira Osakabe propõe, mas são também, por outro lado, textos capitais, que têm atraído inumeráveis comentários e se situam no coração da escrita poética de Pessoa.
O resultado é perfeito, porque o fato de servirem para ilustrar a tese crítica que o autor desenvolve se liga com a sua qualidade intrínseca de poemas, e o modo como a análise deles é prosseguida, do ponto de vista de alguém com o saber de Haquira Osakabe, ilumina-os de um modo original (casos de “Chuva oblíqua”, “Ela canta, pobre ceifeira”, “O guardador de rebanhos”, “O encoberto”).
Este livro vem na sequência de um anterior, Fernando Pessoa: resposta à decadência, que pode servir de amplificação e comentário de algumas das chaves de leitura que aqui nos são apresentadas com tanta simplicidade e clareza. A interpretação de Pessoa proposta não é a única possível, pois a galáxia da sua poesia tem muitas rotas e destinos, mas é uma interpretação singular, coerente, marcante e total. Há poucas assim.
Fernando Cabral Martins