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"Me ame, ame meu guarda-chuva.” Com essas palavras finais, Giacomo - aliás, o "exilado voluntário" James Joyce, em sua condição de dublinense triestino, querendo uma desforra em duas línguas - conclui o seu envoy irônico, já que este é, como nos lembra José Antonio Arantes nas notas ao texto, um extravio, um “despacho do tema-refrão” — a paixão não consumada do professor de inglês por uma jovem aluna judia. Escrita entre o término de Um Retrato do artista quando jovem e o começo de Ulisses, essa "obra italiana" de Joyce conserva-se na órbita desses dois livros (tanto assim que, na composição de Ulisses, Joyce não hesitou em “saquear” passagens inteiras de Giacomo Joyce), além de se ocupar de temas recorrentes na obra do autor —culpa, erotismo e infidelidade conjugal —, ao mesmo tempo que retrata acontecimentos autobiográficos, supostamente envolvendo a relação que Joyce manteve com Amalia Popper, que foi sua aluna em Trieste. A forma literária do livro resiste a uma classificação exata — um misto de "poema narrativo, prosa e drama", com uma evolução fragmentária que o torna parente próximo das epifanias e do monólogo interior.
Diferentemente, porém, das demais obras de Joyce, ligadas fundamentalmente ao universo da Irlanda, Giacomo Joyce tem como cenário paisagens continentais — "um arrozal vizinho de Vercelli, sob um halo cremoso de verão”, ou “Pádua muito além do mar” —, e o texto parece lançar mão de metáforas predominantemente visuais — outro aspecto raro na obra de Joyce, cujo gênio, como sempre se disse, foi essencialmente auditivo, tendencioso em termos do significante. Por isso, Giacomo Joyce tem sido comparado ao Capítulo 13 de Ulisses, "Nausicaa", que tem a "Pintura" como arte e o "Olho e o Nariz" como órgãos; contudo, se em "Nausicaa" a visão que Bloom tem de Gerty MacDowell recebe, por meio dos fogos de artifício, tintas de conotação cômica, em Giacomo Joyce, o sentimento destilado é mais doloroso. Assim, numa atmosfera evocadora de "castelos, hesitações hamletianas, heráldica e cortesias principescas", como disse Ellmann, dá-se um verdadeiro "caso ocular" entre Giacomo, espicaçado pelo desejo, vítima de seu próprio voyeurismo, tentando equilibrar-se em seus avanços e recuos, e a signorina inacessível, envolta em peles e de beleza gélida — um caso que o obrigará a abandonar a supremacia de seu ego, diante da sugestão da preferência da jovem por outro homem — aludido no texto como "Barrabás", num sentimento de amargura proporcional à medida de sua ousadia: pôr-se no lugar de Cristo.
Alípio Correia de Franca Neto