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Obra esquecida da história da literatura brasileira, o conto longo "Ierecê a Guaná” ressurge agora com inegável frescor, podendo ser lido como uma parábola do (des) encontro entre duas raças, a índia e a branca. Escrito pelo Visconde de Taunay após uma estada nos sertões de Mato Grosso durante a Guerra do Paraguai, "lerecê a Guaná" recria um idílio vivido pelo próprio escritor, que, tendo se apaixonado por uma índia chamada Antônia, decidiu estudar-lhe a língua e os costumes, redigindo então notas etnográficas e um vocabulário de termos guanás, incluídos neste volume.
Propondo-se a fazer uma espécie de versão verista da novela Iracema, de José de Alencar, Taunay pôs frente a frente um português sarcástico e uma índia ingênua que por ele se apaixona. Ao contrário de Alencar, que descrevia seus índios "do fundo do gabinete, lembrando-se muito mais do que lera do que daquilo que vira com os próprios olhos", Taunay se considerava um antropólogo experiente: "Conheci-os bem de perto, com eles convivi seis meses a fio e pude observá-los detidamente. E eram aborígenes de procedência e cunho mais elevados, chanés de Mato Grosso que se dividem em quatro numerosos grupos — choooronós ou guanás, quiniquinaus, laianos e terenas." O futuro autor de Inocência e A Retirada da Laguna acreditava ser detentor de um saber etnográfico que lhe permitiria dar novo rumo à literatura indianista do seu tempo.
Ao tentar conciliar, num texto que se situa entre o romantismo e o realismo, a literatura com a antropologia, Taunay lançou os germes de um tipo de prosa que ainda não foi totalmente explorado no Brasil, onde são faladas mais de 150 línguas indígenas, as quais contaminam (e dialogam com) o português, como sucede neste conto indianista do Visconde de Taunay, que retrata uma região de fronteiras, mesclas e conflitos.
Organizada por Sérgio Medeiros, esta edição de "Ierecê a Guaná" vem enriquecida com ensaios de Antonio Candido, Haroldo de Campos, Lúcia Sá e Sérgio Medeiros, que discutem aspectos da obra do escritor e, particularmente, o conto longo aqui reimpresso com o dicionário de termos guanás, a língua de lerecê, elaborado pelo próprio Taunay.