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Ensaísta de fôlego que já dedicou um longo estudo ao romance Finnegans Wake, Dirce Waltrick do Amarante também aprecia as formas breves, as quais ela parece privilegiar ultimamente. O presente livro é fruto dessa aposta da ensaísta: reúne o que ela escreveu sobre James Joyce e divulgou em diferentes meios de comunicação impressos e digitais. Alguns textos, porém, são inéditos, mas esses também seguem o formato breve.
Os ensaios, lidos em conjunto, traçam um curioso e instigante retrato da recepção do artista irlandês no Brasil: começam falando dos tradutores do romance Ulisses (temos em português brasileiro três versões diferentes dessa obra-prima, o que é um raro privilégio), comparam-nos entre si com muita propriedade e discernimento, e, em seguida, destacam, na parte mais densa do livro, a meu ver, os tradutores do desconcertante Finnegans Wake. Contudo, a noção de “tradutor” é aqui retrabalhada pela ensaísta, que passa a buscar nas próprias ações dos personagens oníricos de Joyce (estamos, nós, leitores, imersos num sonho narrado e interpretado) o modelo de tradução, para descobrir como ela pode e deve ser feita, segundo aquilo que o romancista elaborou sobre o tema. Na verdade, a tradução em Joyce é muito mais do que um tema: é uma estratégia narrativa que ele explorou até o seu limite, sobretudo na sua última obra, a mais obscura da literatura de todas as épocas.
Por meio dos personagens tradutores, enfim, Dirce Waltrick do Amarante propõe uma nova via de acesso à obra de Joyce, mostrando como essa obra não só é passível de ser traduzida como pode ser lida sempre com prazer. Pois a tradução, no decorrer da intriga romanesca, é fonte de intriga, humor, mistério...
Mas este pequeno livro vai além, pois destaca, em seguida, o Joyce que escreveu para crianças, ou, mais especificamente, para o seu neto, a quem dedicou textos aparentemente simples e amenos. Ao valorizar esse lado “infantil” da literatura do grande mestre modernista, a ensaísta mostra mais uma vez o seu empenho em encontrar e desbravar novas maneiras de ver e ler no Brasil a imensa e diversificada obra de James Joyce.
Sérgio Medeiros
Dirce Waltrick do Amarante é tradutora e ensaísta. Publicou, entre outros, de Para ler Finnegans Wake de James Joyce (2009), As antenas do caracol: notas sobre a literatura infantojuvenil (2012), Cenas do teatro moderno e contemporâneo (2015). Traduziu livros para crianças, como O gato e o diabo e Os gatos de Copenhague, ambos de James Joyce; e Contos de Ionesco para crianças, de Eugène Ionesco. Traduziu e organizou uma antologia de textos de Edward Lear, Viagem numa peneira. Colabora em jornais e revistas. É professora da Universidade Federal de Santa Catarina.