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Este livro nos apresenta a suma da semiótica aplicada de Lucia Santaella e, ao mesmo tempo, uma teoria nova, radical e ousada: a teoria das três matrizes da linguagem e do pensamento. Resultado de um quarto de século de pesquisa fundada na teoria do signo e dos processos sígnicos de Charles Sanders Peirce, a abordagem vai além da semiótica aplicada daqueles terribles simplificateurs que se aproveitam de fragmentos do instrumental semiótico, gerando a semiótica light dos discursos fáceis e reducionistas.
A tese central nos confronta com um paradoxo. De um lado, os sistemas sígnicos se manifestam em processos metabólicos em permanente mutação e o universo midiático produz a hibridização pluriforme de meios e códigos; de outro lado, o estudo semiótico dessa diversidade revela que não há mais do que três matrizes semióticas a partir das quais, por processos de combinação e mistura, origina-se toda a multiplicidade das formas diferenciadas de linguagens.
O fundamento fenomenológico e semiótico se encontra nas três categorias peircianas de primeiridade, secundidade e terceiridade. A hipótese inovadora é a de que há uma correspondência básica entre essas categorias e a percepção e linguagens humanas: a sonora pertencendo à matriz da primeiridade, a visual à da secundidade e a verbal à da terceiridade. Daí se segue a surpreendente reinterpretação do mundo sonoro como o domínio do signo icônico, do mundo visual como o domínio do signo indicial e do mundo verbal como o domínio do signo simbólico. Apoio independente para a tese das três matrizes vem da teoria da modularidade da mente humana desenvolvida no quadro das ciências cognitivas, por exemplo, por Jackendoff, que considera o verbal, o visual e o musical como os três módulos fundamentais da mente humana.
A divisão triádica das linguagens é só o primeiro passo analítico. Através de combinações e misturas entre as categorias, cada uma dessas matrizes se subdivide triadicamente, resultando em nove modalidades do verbal, nove do visual e nove do sonoro. Desdobramentos dessas combinações e misturas resultam até num total de 81 modalidades, mas a base triádica dessas distinções finíssimas deixa sempre transparente a estrutura complexa desse tecido analítico.
O campo da aplicação dessa teoria é amplo, abrangendo não só a música, as artes visuais e os discursos verbais, mas também a televisão, vídeo, cinema, as telecomunicações, a informática e as linguagens da hipermídia. A conclusão é uma radicalização da tese desenvolvida por Néstor Garcia Canclini sobre a natureza híbrida da cultura latino-americana: não só a cultura contemporânea é híbrida, mas todas as linguagens são híbridas. Toda a profusão diferenciada de signos com que convivemos a cada dia, hora e instante de nossa vida não é senão fruto de misturas sem fim e combinações imprevistas, mas, na base dessas estruturas híbridas, há um número finito de modalidades, cuja lógica semiótica a autora deste livro consegue delinear com transparência cristalina.
Winfried Nöth