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Dos Doze pequenos escritos, publicados quase confidencialmente em 1926, A mesa, dada a lume em 1981, Francis Ponge (1899-1988) não cessou de desenvolver com meticulosidade uma obra imensa, questionando os fundamentos cognitivos e perceptivos da literatura moderna.
Reconhecido hoje como um dos poetas maiores do século XX, levou tempo para impor seu trabalho, sem dúvida devido a seu caráter opiniático e desmistificador. Terrorista, meditativo, não receou desbravar um território da linguagem no qual a imaginação, a sensação e a memória se conjugam para sondar a espessura da matéria o viver concretamente suas superfícies. Longe de reduzir-se à objetividade seca de uma fenomenologia sem coração, o partido lexical das coisas que ele tomou dá a conhecer ao espírito e ao corpo os meios de inventar a humanidade por vir.
Ao mesmo tempo testamento e texto príncipe da obra, reescrito ao longo de sete anos, A mesa traça como que às avessas o itinerário emotivo do escritor. Entramos em cheio num ateliê exposto aos quatro ventos. As folhas constituem então menos rascunhos inscritos num processo que conduz a um acabamento textual do que atos a exprimir a falta de palavra e a conferir à duração criadora sua plena potência fantasmática. Sequência de peças em trapos, esta obra, serenamente angustiada e, por tanto, paradoxalmente sem objeto, leva Ponge ao que ele denomina o "nó", isto é, à sua "qualidade diferencial": uma moral epicurista da morte. A mesa chama assim o silêncio fundamental que nos permite apreender a música das esferas através da força geradora da matéria.
Michel Peterson