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“A obra que Maximiano Campos vem escrevendo é cíclica e é uma só, escrita e publicada em partes que, por sua vez, cada uma por si, tem vida própria e independente. O conjunto compõe um vasto mural que ele vem levantando da vida nordestina ou, para ser mais preciso, da vida humana através deste pedaço do mundo que é o Nordeste".
Ariano Suassuna
O conto está em voga no Brasil. Os livros de contos se sucedem. Vários os contistas entre os escritores da geração mais nova.
Algum que se tenha já afirmado um jovem mestre nesse difícil gênero de literatura de ficção? Parece que não. Nem sequer outro Monteiro Lobato ou um mais carioca ou menos carioca João do Rio. Nenhum. Nem um Muito novo Marquês Rebelo. Muito menos um moderno Simões Lopes Neto ou mesmo um Afonso Arinos I°. Isto sem pensar num novo supercontista que foi Machado. Ou num outro Lima Barreto.
A verdade, porém, é que são numerosos os jovens autores de contos no Brasil de hoje. E entre eles, alguns que começam — ao que parece — a abrir novas perspectivas ao conto brasileiro, juntando as qualidades de imaginação, de experiências, de observação — tão necessárias, as três, a um autêntico autor de obra de ficção— senão estilos, modos de escrever pessoais e atraentes que correspondem a maneiras também pessoais até líricas de ver ou de evocar ou de interpretar um autor, flagrantes significativos de vivência ou de convivência brasileira.
Maximiano Campos, do Recife, está de certo entre esses jovens escritores brasileiros de contos — são vários, alguns pernambucanos como, além de Maximiano, Pelópidas Soares — que nos dão a promessa de virem a se afirmar mestres na especialidade. Uma especialidade, repita-se, difícil na qual Maximiano se revela escritor de palavra ágil, incisiva, expressiva. E contista de um modo muito seu de ser escritor desse gênero.
Quer isto dizer que Maximiano Campos surge como contista, por geração espontânea? De improviso? Sem receber influências de antecessores de dentro ou de fora de sua província?
Evidentemente, não. Tais gerações espontâneas não ocorrem. O que há, por vezes, é um afā da parte de uns poucos novos no sentido de procurarem esconder influências recebidas da parte de outros contemporâneos ou de predecessores inegáveis. Vão esforço. É como querer-se tapar com peneira a luz recebida. Recebida e por vezes magnificamente utilizada contra o escuro das desorientações, tão naturais em principiantes.
Maximiano Campos se junta a uma nada insignificante e corrente de bons contistas brasileiros, dos quais, é um continuador de talento. De talento e com inconfundível personalidade. Surge como contista especializado em personagens ou temas agrestes como foi o insigne Simões Lopes Neto. Como foram Coelho Neto e Afonso Arinos I°. Como tem sido vários outros, sem que deva ser esquecido o também pernambucano Luís Jardim.
Gilberto Freyre
Diário de Pernambuco,
18 de julho de 1971.