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A respeito do filósofo Giordano Bruno (1548-1600), cuja teoria da coincidência dos contrários muito o influenciou, James Joyce escreveu que a sua vida parecia uma fábula heroica: “Monge dominicano, professor itinerante, comentarista de filosofias antigas e criador de outras novas, dramaturgo, polemista, advogado de sua própria causa e, finalmente, mártir queimado vivo no Campo dei Fiori — Bruno, através de todos esses modos e acidentes (conforme os chamaria) do ser, permanece uma unidade espiritual consistente.”
Esta tradução de O canto de Circe e A arte da memória não desmente a apreciação do romancista irlandês, pois, como alerta a tradutora Aurora Bernardini na introdução, o método para memorizar coisas e sentenças, aqui exposto, toma por base preceitos da tradição dominicana, mas é também, ou sobretudo, uma versão mágico-mecânica da arte da memória, o que faria de Bruno um profeta dos computadores, sem contradizer o fato de que o filósofo sempre foi um homem embriagado de Deus, ainda mais do que Spinoza, como já se afirmou.
“Essas técnicas mnemônicas”, defende entusiasticamente John Regnault, secretário do príncipe Henrique D’Angoulème e primeiro editor da obra, “permitem memorizar as palavras com menor trabalho, exercício e empenho do que as outras. Os que tomam esse caminho têm mais facilidade dos que os que escolhem outros métodos, pois bastam três ou quatro meses para aprender, enquanto os outros precisam de três ou quatro anos”.
Aos que terão em mãos este livro bilíngue, o qual se propõe a fortalecer o poder da memória natural, é dado este conselho num dos diálogos que o compõem (o primeiro, entre a feiticeira Circe e uma serva; os outros dois, entre discípulos de Giordano): “não desperdicem esta graça e este dom que lhes foram dados”.
Sérgio Medeiros