Seu carrinho está vazio.
Jovem artista visita um mestre da pintura. Um inesperado encontro com um pintor ainda mais importante coloca-o diante de sério dilema envolvendo a mulher que ama. Seu futuro na arte e na vida depende da opção que fizer. E sua ação coloca em xeque a carreira do grande artista.
Este poderia ser um comum enredo literário. A obra-prima ignorada tornou-se, porém, emblemática dos desejos e tormentos do artista obcecado com sua obra, em busca da perfeição, e dividido quanto ao que fazer com sua vida pessoal.
Em posfácio, um ensaio de Teixeira Coelho explora o universo de ideias e sensibilidades desta novela do criador de A comédia humana. Trazendo a discussão para o cenário da arte atual, este texto discute temas ligados à arte moderna e contemporânea e destaca o papel do Romantismo como princípio ainda ativo da estética — e da vida.
Saber se o que fez é bom e inovador ou, pelo contrário, um desastre irreparável, constitui um drama constante para os que têm na arte a razão de viver. E saber se há algo da vida, como o amor por uma pessoa, que pode ser sacrificado à arte é outro desses temas recorrentes.
A obra-prima ignorada pode ser lida como uma episódica história de amor e frustração e como metáfora das questões que envolvem o surgimento de toda arte nova.
Balzac escreveu esta novela como encomenda recebida de uma revista literária que buscava oferecer a seus leitores apenas algo que estivesse na moda. Ela se tornou, no entanto, uma das mais marcantes do gênero. Misturando personagens reais da história da arte a outros fictícios (mas em tudo verossímeis), Balzac criou uma narrativa intensa, habitada pelas forças da vida sensível tanto quanto pela especulação estética. O conflito entre o amor e a arte, entre a vida pessoal e a profissional; a escolha de uma esfera da vida a sacrificar para que uma outra se afirme e a possibilidade de ser ou não feliz em ambas ou em todas elas são temas tão centrais nesta novela como as ideias sobre arte que nela expõem seus personagens. O resultado é um texto rico e ambíguo onde cada um pode ver, quase, sua verdade pessoal — e diante do qual o próprio autor hesitou.
O impacto de A obra-prima ignorada foi forte e duradouro. Cézanne, precursor do cubismo e nascido depois da publicação da novela, dizia que o texto falava dele. E Picasso, que admirava esta história e a ilustrou, não menos identificado com a história ali narrada, foi instalar-se no mesmo local mencionado na novela como sendo o do ateliê nela descrito e ali pintou uma de suas maiores obras, Guernica, hoje em Madri. O cineasta francês Jacques Rivette dela extraiu em 1991 um filme marcante, La Belle Noiseuse (intitulada em português A bela intrigante).
Este volume inclui um ensaio de Teixeira Coelho preparado para esta edição e que parte da novela de Balzac para penetrar no emaranhado de ideias sobre a arte, o Romantismo e a vida, naquela época como agora, na literatura como em outros domínios.