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Ésquilo em Maratona (490 a.C.) lutou contra o invasor persa ao lado de heróis, e em Salamina (480 a.C.) participou do combate naval e viu Deuses e heróis darem aos seus a desesperada vitória, que salvou e libertou os gregos. Em 458, quando Atenas é próspera, confiante e feliz com sua glória recente, apresenta Orestéia, com coros magníficos, cenas terríveis e sublimes.
A Orestéia de Ésquilo é um dos mais belos e ricos documentos literários da permanência e transformação do pensamento mítico arcaico dentro do horizonte político e do contexto cultural de Atenas no século V a.C. Nesses versos elaborase o pensamento político relativo às relações de poder e à questão da Justiça na pólis, mediante o uso sistemático de imagens e noções míticas legadas pela tradição.
Em Agamêmnon, o coro de anciãos argivos, perplexos e angustiados ante as contradições do presente, romemora a partida do grande exército coligado contra Tróia e interpreta os sinais divinos que acompanharam a partida. A terrível clareza das reflexões sobre justiça e poder permitiria aos anciãos prever o curso dos acontecimentos, se a dor não os impedisse. Entre os extremos da sacralidade e da violência, move-se a doutrina do coro sobre hýbris e analisam-se os crimes e a guerra dentro dos horizontes e da perspectiva política democrática.
A explicitação dialética dos diversos pontos de vista presentes no drama na seqüência do prólogo, párodo, estásimos e das cenas da rainha a anunciar a vitória argiva sobre os troianos, do arauto, do dia regressário, do tapete purpúreo, de Cassandra e finalmente dos regicidas, define os limites próprios da cidadania democrática, e caracteriza as atitudes típicas da aristocracia e da tirania tradicionais, contrapostas à democracia contemporânea da época trágica.
Jaa Torrano é professor de Língua e Literatura Grega na Universidade de São Paulo. Publicou O sentido de Zeus: o mito do mundo e o modo mítico de ser no mundo (São Paulo, Iluminuras, 1996), HESÍODO: Teogonia: a origem dos Deuses (São Paulo, Iluminuras, 5ª ed., 2003), ÉSQUILO: Prometeu prisioneiro (São Paulo, Roswitha Kempf, 1985), EURÍPIDES: Medéia (São Paulo, Hucitec, 1991), EURÍPIDES: Bacas: o mito de Dioniso (id. ib. 1995).