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Luis Gusmán (org)
Autores: María Moreno, Sergio Chejfec, Luis O. Tedesco, C. E. Feiling, Antonio Oviedo, María Martoccia, Gustavo Ferreyra, Jorge Consiglio, Sergio Bizzio, Flavia Costa, Juan Becerra, Guillermo Piro, Pablo Katchadjian, Ana Arzoumanian, Matías Serra Bradford, Mariano Fiszman, Daniel Guebel, Martín Kohan, Matilde Sánchez, Luis Chitarroni, Federico Jeanmaire, Anna Kazumi Stahl, Marcelo Cohen, Alan Pauls, Ricardo Zelarrayán, Florencia Abbate e Roberto Raschella.
Neste livro estão reunidos textos de 27 escritores argentinos contemporâneos, muitos deles publicados no Brasil pela primeira vez, outros já consagrados e conhecidos em língua portuguesa. É a chance de o leitor brasileiro conhecer um mapa da produção argentina atual para além dos escritores tornados famosos pelo boom literário dos anos 1960. Os outros foi organizado pelo escritor e psicanalista argentino Luis Gusmán, a partir da ideia de que uma antologia não precisa resultar necessariamente em soma pois, para ele, “Os outros quer dizer diferença”.
Diferença nos mais diversos sentidos. A nacionalidade, por exemplo, neste início de século 21 é um conceito incerto e movente. Assim, cabem nesta antologia argentina tanto o olhar do viajante argentino nos Estados Unidos (Sergio Chejfec) quanto o da nipo-americana que adotou a língua espanhola como pátria literária (Anna Kazumi Stahl). Em relação aos temas, são diversos os territórios, desde a saborosa memória de uma história de migração armênia (“Amor pela armênia”, de Matilde Sánchez), a evocação mítica da Calábria que destrói a língua espanhola (“Se tivéssemos vivido aqui”, de Roberto Raschella), até a narração de um episódio misterioso da vida de Stendhal na Letônia (“O nariz de Stendhal”, Daniel Guebel) e do próprio passado argentino, em intimistas construções histórico-narrativas (“O cerco”, de Martín Kohan; “Vida de uma bala”, de Juan Becerra). Quanto aos gêneros, comparecem a crônica na cidade, sintetizada em uma praça (“Tenha dó (Praça Miserere)”, de María Moreno); a poderosa prosa poética de Luis Tedesco; e o diário de um tradutor viciado, Rímini, personagem constante na obra de Alan Pauls (conhecido no Brasil pelo filme O passado, de Héctor Babenco, 2007). A iniciação sexual de dois adolescentes comparece com o violento humor de Sergio Bizzio, com seu “Cinismo”, que coloca em xeque a moral sexual da burguesia liberal numa história depois levada às telas (XXY, Dir. Lucía Puenzo, 2007). A loucura é tema de dois grandes contos, “O escolhido”, do já falecido tradutor do Finnegans Wake, Carlos Eduardo Feiling, que constrói uma possibilidade do conto fantástico do século XX; e “Nos confins da cidade”, de Gustavo Ferreyra, em que a loucura da própria esposa é o tema da perturbadora narrativa. Este livro é o mapa fundamental da produção em prosa da Argentina de hoje, em sua diversidade. Os outros, talvez sem tal pretensão, termina por mapear também o lugar do escritor argentino contemporâneo. Os autores desta antologia são, em sua maioria, o que se chama profissionais das Letras: professores universitários, críticos literários, articulistas e tradutores. É preciso conhecê-los.
Wilson Alves-Bezerra