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Como se houvéssemos saído ou entrado em algum sonho kafkiano, em que a realidade se manifesta aparentemente normal e identificável sob seus signos mais reconhecíveis, mas não deixando nunca de emanar algum ar estranho que gera certa intranquilidade, ou então percebendo que nossa lógica positivista das coisas já é respirada como fogo-fátuo, assiste-se na obra de Patricio Farías a um raro grau de perturbação imagética, que chega a mexer na aura consagrada da obra de arte, em seu crédito estabelecido. Onde as peças, máquinas ou “mobiliário” escultórico, ou então, a sua plural coleção de anti coisas com formatos diversos (de esculturas, instalações, objetos, desenhos ouvídeos), passam a construir um repertório imaginal e uma ambiência rarefeita, que se define, obviamente, pelo contrário de uma objetualidade estrita ou a rigor – como diria a tranquila decoração departe da arte mais domesticada –; pois, aqui, o que verdadeiramente está em jogo é a configuração das imagens, mas também seu lado contratual – o seu acordo conosco –, assim como elas obedecem a uma objetualidade artística em suspeita – até nos tamanhos e motivos escolhidos pelo próprio artista. Nesta, sujeito, objeto e experiência são uma tríade a ser regulada de novo, em parte, pelas doses de cumplicidade (aproximação), hermetismo (distância) e ironia (reserva), embaralhadas como naipes ante nossa expectação, por um baralho estético que nos pede jogar – com a linguagem, com a realidade ,com suas dissonâncias de relação e, em consequência, coma história estética moderna e contemporânea e com a visualidade ambiental que nos rodeia.
Adolfo Montejo Navas