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“Pistas falsas, multifacética montagem sobre o futuro imediato já realidade: as novas ondas de racismo, a submissão da vida à engrenagem da produtividade e do lucro, as ruínas da política e as perplexidades do intelectual, o equilibrismo da arte, a difícil independência do afeto e do erotismo.”
Marcelo Cohen
“Em 2030, a Palestina já é um Estado e a ‘globalização vinda de baixo’ leva empresas do México para a China. Um arqueólogo viaja por cidades emblemáticas da América Latina observando os costumes locais e misturando-se com pessoas e temas aos quais se liga por curiosidade e espanto, talvez até amor. [...] Tudo é interessante para o olhar do escavador de culturas: o supermercado e o design de móveis, os costumes das ruas e o mercado editorial, a transformação dos zoológicos e os ecoparques. Em Pistas falsas, a etnografia é atravessada pela ficção e pelas emoções pessoais para enxergar, a partir do futuro, o passado que já somos.”
Cristina Rivera Garza
Pela segunda vez, esta coleção dedicada a acolher, a princípio, ensaios sobre cultura e política cultural — em trama crescente e internacional — inclui uma obra de criação literária. Os gêneros derretem-se e fundem-se. O instante é transdisciplinar, depois de penar nos impasses interdisciplinares.
A única surpresa é o tempo gasto nessa passagem e ultrapassagem. Ficou claro: não há mais espaço para um conhecimento que não integre os momentos da Estética (da arte, da emoção, da sensação, do pode ser), da Ética (outro nome para a Prática das melhores escolhas) e da Lógica (a abstração, as normas, o que tem de ser). De um lado, o rigor da ciência; no canto oposto, as errâncias da sensibilidade. Durante tempo demais, desde Platão, impôs-se uma distância entre ambos os polos — em prejuízo dos dois. Não mais.
Essa questão é clara para Néstor Canclini, até há pouco reconhecido como um filósofo de formação que escolheu os campos da antropologia. Ou da sociologia? O fato é que os rótulos pediram falência: cabeças pensantes são ora isto, ora aquilo, quase sempre isto e aquilo, não disto ou daquilo. E Canclini busca sair da linguagem formatada, setorial, para uma outra, aberta.
Não será num livro clássico de antropologia em que se lerão palavras como amor, ouvida da boca de um personagem; e beijo; e o desejo de ir à casa da amada mesmo tarde da noite para uma taça de vinho... E esta outra, belíssima mesmo se cartesiana ao extremo: incertezas — que não costuma frequentar ensaios de antropologia e sociologia, não raro encerrados no contrário dela a pesar como chumbo sobre as análises lapidares que pensam fazer. A cena agora se alarga, é viva, atraente. O prazer de ler sociologia pode retornar.
Canclini talvez retoma, aqui, as balizas de seu primeiro livro, Cortázar, una antropología poética, de 1968. Essa nova disciplina, indisciplinada, continua aqui. Boa notícia.
Teixeira Coelho