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Poetar
é processo
não cessa
não cesse
é preciso.
Ao usar a imagem de um funâmbulo em "O limbo", poema deste novo livro a nós apresentado, Mauricio Segall parece deter-se nos matizes representativos que a figura do equilibrista contem, ideia perceptível desde o titulo, bipartido entre dois capítulos, "Poesia ao acaso" e "Prosa ondeante", a indicar a luta contínua do artista do verbo na busca do equilíbrio precário entre forma e conteúdo, entre a expressão precisa, sem arestas, e a expressão fluida, pulsante.
Em “Poesia", a pretensa casualidade da imagem poética arrima-se num processo linguístico de mineração e de ourivesaria, na tentativa de fixar no papel o que Segall cataloga de “ferrugem viva dos sonhos", resultado da ação corrosiva do tempo cronológico, contra quem o poeta é peremptório: "recuso-me a acompanhá-lo". Nesse ritmo, para não cair no movimento do mundo urbano, o poeta equilibra-se no exercício contemplativo, em que predominam as cores do "arco-íris do outono", "lembranças", a sensação de que o "calor partiu (com) o sol", o "ofegar da alma", o "branco vazio absoluto" das estepes e geleiras da Patagônia, a "sobre Vida incerta", a que se mesclam as figuras auráticas do último neto, Júlio, do último amor, Clarissa e do pai primevo, Lasar Segall.
Em "Prosa", o ritmo verboso da escrita faz parelha com a inequívoca e caudalosa capacidade de indignar-se de Mauricio Segall, a lembrar no poeta tardio, o multiculturalista que há décadas formula ideias luminescentes contra a mesmice endêmica das politicas públicas, não apenas culturais, que se incrustam nas sociedades de massa.
Entre a introspecção contemplativa e a contenda politica, o funâmbulo Mauricio Segall reafirma, no começo do século XXI, o (des)equilíbrio dialético entre a intenção participativa e o gesto poético, ao assumir-se contraditório e absolutamente humano.
Aurea Rampazzo
Mauricio Segall é museólogo, autor de duas peças de teatro, A Formatura e O Coronel dos Coronéis, ambas premiadas e publicadas pelo Serviço Nacional de Teatro e pela Civilização Brasileira; do livro de artigos Controvérsias e Dissonâncias, da Boitempo, dos livros de poemas Mascaras ou Aprendiz de Feiticeiro e Dos Bastidores à Ribalta, pela Iluminuras, e do livro 30 anos à frente do Museu Lasar Segall, edição M.L.S e artigos e textos diversos.