Seu carrinho está vazio.
“Poesia suporta ser traduzida e interpretada? Assumimos aqui o desafio de mostrar que tradução e crítica podem se unir para alcançar um núcleo vivo da experiência poética. (...) A tradução e a crítica convergem assim ao cerne da poesia — no sentido legível, nas modulações de tom. Poesia em tempo de prosa é o registro do pensamento intrincado que a poesia foi forçada a produzir — mas de um ‘pensar que continua a aflorar no ouvido, na retina, no jogo sutil dos sentidos’.”
Estas palavras de Kathrin H. Rosenfield nos dão a dimensão do alcance e da importância deste trabalho, que apresenta de um outro ponto de vista a poesia de T. S. Eliot e Charles Baudelaire. Na tradução, realizada magistralmente por Lawrence Flores Pereira, poemas como The Waste Land ou “O Gato” aparecem de forma renovada para o leitor brasileiro, sendo sempre acompanhados pelos comentários instigantes de Kathrin H. Rosenfield e do próprio tradutor.
Quem disse que a poesia seria intraduzível? Lawrence Flores Pereira faz a prova do contrário, encontrando giros à altura da elegância de Baudelaire e vertendo as modulações de Eliot para o português que, a princípio, é algo avesso a prosódia inglesa. Quando um jogo de palavras, de imagens ou de sons parece irrecuperável, o tradutor encontra compensações e explica, nos seus Comentários, a "economia" da tradução que permitiu resgatar o efeito do original, mesmo que isto implique em pequenas modificações pontuais de palavras.
A tradução e o comentário oferecem, assim, uma entrada agradável nos segredos do pensamento cifrado e na lógica sensível da poesia. Ela se torna um presente para uma leitura prazerosa, porque guia a atenção do leitor através de uma névoa de associações que sugerem os pensamentos subliminares da poesia.
Por esta Via prazerosa, a tradução ajuda a mostrar também que a poesia não é “inefável” e que a poesia moderna não termina na derrota do sentido e da interpretação. As ruínas e o caos são, desde sempre, uma figura literária e, sobretudo, um engodo: um meio de fazer aparecer, de encenar e de dramatizar a ânsia de ordem e de perfeição. São estas aspirações “arquitetônicas” que Kathrin H. Rosenfield reconstrói nos ensaios críticos. evidenciando o diálogo que os poetas mantêm com os "prosaístas" — os narradores, historiadores e filósofos de todos os tempos. Além desta contextualização, a crítica ilumina a rigorosa lógica da poesia que se perfila nas ricas nuances de sons e imagens. Nas leves inflexões da voz — oscilando entre ironia e sarcasmo, sinceridade e derrisão, tristeza e alegria — a interpretação mostra o “corpo” do sentido.
Lawrence Flores Pereira nasceu em Santa Maria, RS, e vive em Porto Alegre, onde prepara um doutorado (sobre Shakespeare e Racine) na PUC/RS. Fez Mestrado na UFRGS (Figurações da poesia popular nordestina) e publicou artigos sobre Henry James, Paul Valéry, Baudelaire, Eliot, Cruz e Souza, entre outros.
Kathrin H. Rosenfield nasceu em Salzburg. Áustria fez doutorado na França e vive desde 1984 em Porto Alegre. É professora adjunta do Departamento de Filosofia e nos Cursos de Pós-graduação em Filosofia e em Letras da UFRGS e pesquisadora do CNPq. Suas principais publicações são: Os descaminhos do demo. tradição e ruptura em Grande Sertão: Veredas, Imago/EDUSP: Grande Sertão: Veredas, roteiro de leitura, Ática; A linguagem liberada, Perspectiva; A história e o conceito na literatura medieval, Brasiliense.