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Evitar que o barroquismo vire uma teoria esotérica é um desafio, e ninguém melhor que Márcio Peter de Souza Leite para responder à altura. O valor intelectual deste livro na difusão do pensamento de Jacques Lacan no Brasil testemunha o lugar ímpar que seu autor ocupa no campo freudiano. Na alvorada de um novo milênio, capitalizando um século de existência, a psicanálise continua seu avanço, pois o inconsciente nunca dorme, e os verdadeiros analistas jamais desistem.
Ler Lacan nunca foi fácil para ninguém, sendo ainda uma empreitada mais difícil para os psicanalistas de outras cepas, aqueles cujos percursos garantem o confronto de um saber que tende a negar o reconhecimento de uma verdade vinda do Outro, Sigmund Freud, pai de todos. Por isso mesmo, quando Márcio Peter de Souza Leite, alguns anos atrás, se dispôs a enfrentar uma plateia de colegas kleinianos para falar do discurso lacaniano, existia o risco de acabar tudo numa autêntica – parafraseando Ferenczi – “confusão de línguas”. No entanto, não foi o que aconteceu; muito pelo contrário, a alteridade da audiência estimulou o orador a dar o melhor de si, e seus interlocutores foram beneficiados com a explanação de uma teoria que, embora psicanalítica, não era coincidente com suas formações, além de questionar suas práticas.
O saldo positivo da experiência extrapolou seus participantes quando o dizer virou palavra escrita, e o texto decorrente estendeu para uma boa quantidade de leitores o sucesso daquele ato de transmissão. Temos agora, no presente volume, a segunda versão da obra, mais elaborada e ambiciosa.
Com efeito, se antes era mister esclarecer o fundamento da negação da falta enquanto pivô conceitual, desta vez percebe-se a tentativa de oferecer uma visão panorâmica da orientação lacaniana na psicanálise contemporânea. Algo assim como uma atualização doutrinária, onde uma ordem de razões sustenta a argumentação de forma consistente, nada dogmática. Ao mesmo tempo, muda o público-alvo: já não se trata de dialetizar com os que pensam diferente, e sim de levar a palavra plena para quem quiser ouvir, neófitos ou escolados.
Márcio Peter faz jus ao desafio de evitar que o lacanismo barroco vire esoterismo intelectual. O valor operacional deste livro na difusão do pensamento de Jacques Lacan no Brasil testemunha a importância do lugar ímpar que seu autor ocupa, seja no marco institucional do qual faz parte, e também extramuros. Na alvorada de um novo milênio, capitalizando um século de existência, a psicanálise continua seu avanço, pois o inconsciente nunca dorme, e os verdadeiros analistas jamais desistem.
Oscar Cesarotto
Márcio Peter de Souza Leite é médico, psiquiatra e psicanalista, membro da Associação Mundial de Psicanálise, diretor-geral da Escola Brasileira de Psicanálise-SP (1999 - 2001), fundador e diretor do Núcleo Marcio Peter de Ensino - Conexão Lacaniana / Instituto Marcio Peter - SP (desde 2006). É autor dos livros O que é psicanálise (Brasiliense, 1984), O Deus odioso e o diabo amoroso (Escuta, 1991), A negação da falta (Relume-Dumará, 1992), e coautor de Jacques lacan, uma biografia intelectual (iluminuras,2010).