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[...] o Renascimento de Pater não se conteve neste estreitamento, e reagiu com força à esterilidade a que parecia destinado. Se hoje o relemos, não é somente por sua evidente força literária: é também porque os novos “renascimentos” traçados pela crítica mais madura não sepultaram os antigos, e porque, com esta obra, a forma do ensaio assume, em sua mais aguda consciência, um lugar preciso como expressão artística. A imagem de uma época como ideal na arte e como modelo de vida, e o lugar da crítica como “criação” são os dois polos em que se move Pater e que dão força a seu Renascimento.
Todas as artes aspiram à condição de música: eis um raro aforismo de Walter Pater neste livro. Pater, leitor de filósofos, habitado por um profundo amor a Platão, não foi um homem de sistemas.
O jovem inglês aspirante a pastor anglicano perdeu a fé na religião para converter-se inteiramente à arte, às forças espirituais da cultura. Comprometeu a carreira universitária em Oxford pela pouca ortodoxia de suas convicções. Produziu uma obra, porém, que atingiu com força o pensamento e sensibilidade de seu tempo.
Pensamento e sensibilidade: é preciso entender esses dois termos unidos num único amálgama intelectual. O Renascimento é, em primeiro lugar, uma lição de sentir com pensamento, ou de pensar com sentimento. De associar o que está fora e o que está dentro: “Tal melodia ou tal quadro, tal personalidade cativante que aparece na vida real ou num livro, o que eles são para mim? Proporcionam-me prazer? Como minha natureza é modificada pela presença ou natureza deles?” Estas frases poderiam ter sido escritas por Proust, exprimindo a prática íntima da percepção e da introspecção.
Além de nos ensinar a sentir e compreender as obras, Pater traçou, neste livro, um dos melhores e mais belos caminhos para se chegar à arte do Renascimento. Com ele, descobrimos os grandes artistas de maneira, por assim dizer, “participante”. Que tenha sido escrito há muito tempo, não importa.
Historicamente, Pater contribuiu, de modo decisivo, para definir o Renascimento como nós o entendemos hoje, incorporando os artistas do século XIV, que eram antes percebidos como “primitivos”.
Para o leitor de hoje, mais importante é o seu entrelaçar conhecimento, reflexão elevada e poesia heurística do estilo, requintado tradutor de sensações. Que nos leva a conhecer melhor o Renascimento e a refinar nossa sensibilidade.
Jorge Coli