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RETROVAR

RUBENS RODRIGUES TORRES FILHO

  • R$ 31,00

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O titulo deste livro é já uma trouvaille, um achado revelador. Lança de cara o leitor no jogo, mediante o jogo verbal da tradução e do trocadilho: aparentemente traduz Rimbaud ("A Eternidade", mas retrovada), que vale como epígrafe, repropondo a trova como mote e problema. Obriga-nos, na verdade, a reencontrar a origem dessa palavra, que é também um reencontro da poesia, em estado de percepção nascente. Retrovar, retrouver: reencontrar o caminho da trova e da lírica, na raiz do verbo e do tempo. Por aí se retorna à continuidade perene da fonte, eternidade reencontrada no simples trovar, no refazer instantâneo do canto. Os versos de Rimbaud sugerem, com violência para o limite habitual das coisas, a continuidade do eterno, mar que foi (e revém) com o sol. A cada instante a poesia pode se refazer na trova, no verso que é retorno, driblando o tempo, de volta à origem. Poeta, trovador, trobadour, trouveur, que dá com a imagem (o tropo) no começo. Como o menino heraclitiano que brinca com os peões do tempo, assim o poeta com as palavras.

A poesia de Rubens Rodrigues Torres Filho, com forte espírito lúdico, se arrisca sempre no jogo verbal, pois que dele depende intrinsecamente. Sem se filiar à poesia marginal dos anos sessenta, como os poetas daquele tempo tem o gosto da sacada súbita — instantâneo recortado do cotidiano — e o vivo senso de humor, de herança modernista já muito mediada, mas combinado a uma vertente culta, com preocupação reflexiva e um cuidado de forma que o afastam do espírito daqueles anos em que começou a escrever, como jovem poeta universitário. Era o tempo de Investigação do olhar (1962).

No fundo, se vincula à linhagem dos poetas doutos, modernos e críticos, já sem filiação definida, mas com certeza um autor para quem pesa a muita leitura e o saber universitário. Dublê de filósofo e de tradutor, ao jogar com as palavras, o poeta recifra o vivido em outra chave: enigma verbal em que se condensa, com agudeza, o fluxo das emoções e um pensamento vigilante, afeito à ironia. É poesia paradoxal que deriva de uma percepção linguística, mas brota antes do encontro de um ser sensível com o mundo, visto por ângulos desencontrados da contradição e do desconcerto. A mesma perspicácia que tem para os desvios da linguagem, para os curtos-circuitos da frase — tropos, na origem do trovar, é desvio do sentido habitual —, Rubens revela também na percepção vívida e contraditória das situações existenciais, que refaz em equações armadas nos poemas. Sua melhor poesia depende do casamento íntimo entre o jogo verbal e esta experiência mais profunda das circunstâncias humanas, quando pelos desvios da linguagem arrisca a nomear o inominável, e a forma retesada de seus poemas breves crava no instante a seta alada e ligeira de seu verso. Poemas que, por isso mesmo, lembram a forma primitiva e híbrida do epigrama, com sua mistura apertada de elementos líricos, narrativos e dramáticos, variando de tom conforme a ocasião precisa que assinala e resume, com verve e agudeza. É poesia intelectual, que tende ao wit, pela aliança da racionalidade exata do conceito à leveza da graça lírica. Poesia sempre reflexiva e debruçada sobre perplexidades, por vezes metafísicas, mas só nos momentos de fraqueza, meramente filosofante ou livresca, reduzida ao truque virtuosístico da habilidade verbal.

Todas as sutis modificações linguísticas que funcionam para ele como molas instantâneas do sentido — trocadilhos, paradoxos, anacolutos, paronomásias, rimas, assonâncias, aliterações, toda a parafernália verbal que materializa a imagem — constituem, portanto, seu campo de jogo. É um campo literal de brincadeiras verbais, onde se diverte com a amada, advertindo-a de que está falando sério: arte lúdica e erótica na essência. Poesia ou amada que, batida pelos grandes ventos do desconcerto, cabe na quebra da sintaxe e da rotina e se deixa inesperadamente possuir pelo verbo, Como a proclamada "anacoluta", num dos melhores poemas do livro. Do Voo circunflexo (1981), de A letra descalça (1985), passando pelo ponto alto de Poros (1989), o poeta só apurou a mão e se reencontra límpido e muitas vezes certeiro neste Retrovar, que volta a fonte da mais pura lírica

Davi Arrigucci Jr.

Tradutor(a) Rubens Rodrigues Torres Filho
Nº de páginas 56
ISBN 8585219769
Formato 14cm
Peso 19cm

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