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“O titulo deste livro é já uma trouvaille, um achado
revelador. Lança de cara o leitor no jogo, mediante o jogo verbal da tradução e
do trocadilho: aparentemente traduz Rimbaud ("A Eternidade", mas retrovada), que vale como epígrafe,
repropondo a trova como mote e problema. Obriga-nos, na verdade, a reencontrar
a origem dessa palavra, que é também um reencontro da poesia, em estado de
percepção nascente. Retrovar, retrouver:
reencontrar o caminho da trova e da
lírica, na raiz do verbo e do tempo. Por aí se retorna à continuidade perene da
fonte, eternidade reencontrada no simples trovar, no refazer instantâneo do
canto. Os versos de Rimbaud sugerem, com violência para o limite habitual das
coisas, a continuidade do eterno, mar que foi (e revém) com o sol. A cada
instante a poesia pode se refazer na trova, no verso que é retorno, driblando o
tempo, de volta à origem. Poeta, trovador, trobadour, trouveur, que dá com a
imagem (o tropo) no começo. Como o
menino heraclitiano que brinca com os peões do tempo, assim o poeta com as
palavras.
A poesia de Rubens Rodrigues Torres Filho, com forte espírito lúdico,
se arrisca sempre no jogo verbal, pois que dele depende intrinsecamente. Sem se
filiar à poesia marginal dos anos sessenta, como os poetas daquele tempo tem o
gosto da sacada súbita — instantâneo recortado do cotidiano — e o vivo senso de
humor, de herança modernista já muito mediada, mas combinado a uma vertente
culta, com preocupação reflexiva e um cuidado de forma que o afastam do
espírito daqueles anos em que começou a escrever, como jovem poeta universitário.
Era o tempo de Investigação do olhar (1962).
No fundo, se vincula à linhagem dos poetas doutos, modernos e críticos,
já sem filiação definida, mas com certeza um autor para quem pesa a muita
leitura e o saber universitário. Dublê de filósofo e de tradutor, ao jogar com
as palavras, o poeta recifra o vivido em outra chave: enigma verbal em que se
condensa, com agudeza, o fluxo das emoções e um pensamento vigilante, afeito à
ironia. É poesia paradoxal que deriva de uma percepção linguística, mas brota
antes do encontro de um ser sensível com o mundo, visto por ângulos
desencontrados da contradição e do desconcerto. A mesma perspicácia que tem
para os desvios da linguagem, para os curtos-circuitos da frase — tropos, na origem do trovar, é desvio do
sentido habitual —, Rubens revela também na percepção vívida e contraditória
das situações existenciais, que refaz em equações armadas nos poemas. Sua
melhor poesia depende do casamento íntimo entre o jogo verbal e esta
experiência mais profunda das circunstâncias humanas, quando pelos desvios da
linguagem arrisca a nomear o inominável, e a forma retesada de seus poemas
breves crava no instante a seta alada e ligeira de seu verso. Poemas que, por
isso mesmo, lembram a forma primitiva e híbrida do epigrama, com sua mistura
apertada de elementos líricos, narrativos e dramáticos, variando de tom
conforme a ocasião precisa que assinala e resume, com verve e agudeza. É poesia
intelectual, que tende ao wit, pela aliança da racionalidade
exata do conceito à leveza da graça lírica. Poesia sempre reflexiva e debruçada
sobre perplexidades, por vezes metafísicas, mas só nos momentos de fraqueza,
meramente filosofante ou livresca, reduzida ao truque virtuosístico da
habilidade verbal.
Todas as sutis modificações linguísticas que funcionam para ele como
molas instantâneas do sentido — trocadilhos, paradoxos, anacolutos,
paronomásias, rimas, assonâncias, aliterações, toda a parafernália verbal que
materializa a imagem — constituem, portanto, seu campo de jogo. É um campo literal
de brincadeiras verbais, onde se diverte com a amada, advertindo-a de que está
falando sério: arte lúdica e erótica na essência. Poesia ou amada que, batida
pelos grandes ventos do desconcerto, cabe na quebra da sintaxe e da rotina e se
deixa inesperadamente possuir pelo verbo, Como a proclamada
"anacoluta", num dos melhores poemas do livro. Do Voo circunflexo
(1981), de A letra descalça (1985), passando pelo ponto alto de Poros
(1989), o poeta só apurou a mão e se reencontra límpido e muitas vezes certeiro
neste Retrovar, que volta a fonte da mais pura lírica
Davi Arrigucci Jr.
Tradutor(a) | Rubens Rodrigues Torres Filho |
Nº de páginas | 56 |
ISBN | 8585219769 |
Formato | 14cm |
Peso | 19cm |