Seu carrinho está vazio.
É muito comum no Nordeste que um artista ou qualquer outra pessoa dê um mote – palavra ou ideia a ser desenvolvida numa glosa – a um violeiro, cantador ou folhetista. Em 1970, quando tinha apenas 23 anos, o escritor Raimundo Carrero escreveu o conto “O bordado, a pantera negra”, que o consagrado Ariano Suassuna imediatamente transformou num folheto de cordel. Iniciava-se, assim, uma sólida amizade entre os dois – Carrero chama Ariano de mestre eterno –, consolidada depois com o romance A história de Bernarda Soledade – a Tigre do Sertão, que nasceu imerso no Movimento Armorial.
O conto fora escrito para tornar possível o ingresso do escritor pernambucano nesse Movimento, criado e lançado pelo paraibano em 1970 durante o concerto “Três séculos de música nordestina: do Barroco ao Armorial”, na Igreja de São Pedro dos Clérigos, em Recife. Naquela época, porém, a capital do estado de Pernambuco era constantemente invadida por enchentes monumentais que devastavam a cidade, destruindo homens, imóveis, pertences, bichos... As águas carregaram o conto e o folheto, que permaneceram desaparecidos por 50 anos.
Localizados pelo agente literário Stéphane Chao chegam, finalmente, ao leitor, através desta preciosa edição da Iluminuras, com xilogravuras do artista Marcelo Soares que é, também, um dos mais importantes artistas nordestinos, com uma obra já bastante conhecida e admirada por leitores e especialistas. Marcelo é um artista estudado em universidades brasileiras e estrangeiras, que se destaca sobretudo pela sua capacidade de reunir o popular e o erudito em alta qualidade expressiva, tornando-se, assim, um importante participante desse Movimento, que revigora, de forma definitiva, a literatura brasileira e a arte, em geral.
Podemos observar em Marcelo Soares o traço sempre seguro, leve e sofisticado, a partir de elementos populares da arte brasileira. Na qualidade de xilogravurista, mostra um profundo parentesco com Gilvan Samico, citado por Ariano como a matriz de uma arte armorial que ele gostaria de ver realizada. Modelo sempre; modelo permanente de um momento extremamente significativo de uma arte nordestina nascida das manifestações populares, realizando um belo projeto do espírito artístico brasileiro.
Este livro consolida um momento importante e decisivo do Movimento Armorial, prestando uma homenagem a seu criador, o genial artista brasileiro Ariano Suassuna filósofo, ficcionista, teatrólogo e artista plástico.