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O Talmud, depois da Torah, ou Pentateuco, é o livro que estruturou a religião judaica nos moldes atuais. Trata-se do imenso conjunto de textos que reúne os compêndios da Lei Oral, em complemento à Lei Escrita, a Torah, e ao mesmo tempo discute cada decisão legal-religiosa. O resultado é uma extraordinária enciclopédia sobre o comportamento humano.
“Com a modéstia que caracteriza os verdadeiros sábios, Moacir Amâncio diz na apresentação deste livro que não o escreveu como talmid khachan, mas sim como talmid katan — não como professor e sim como estudante. Seja como for, é graças a ‘estudantes’ como ele que o Talmud continua vivo, dinâmico, ‘em prática pelas ruas de Jerusalém’”.
Rabino Henry I. Sobel
Editado nas academias babilônias durante o primeiro quartel do milênio, seguindo o modelo de um Talmud anterior feito na Palestina, o Talmud Babilônio — aqui apresentado de maneira inédita — se tornou o foco de atenção dos doutores israelitas, que se dedicam ao seu estudo até os dias de hoje. A tal ponto que o antissemitismo medieval tentou suprimi-lo pelo fogo como maneira de atingir o Judaísmo em seu coração. Tais circunstâncias, aliadas à impenetrabilidade do texto original, escrito num jargão hebraico-aramaico, contribuíram para o surgimento de uma aura lendária em torno do Talmud.
O mistério no entanto tenderia a se desfazer com o passar do tempo. Surgiram traduções para idiomas europeus, inclusive o latim, de tratados isolados ou de toda a obra. No Brasil, trechos do Talmud, principalmente lendas e frases, são citados às vezes mesmo fora dos círculos judaicos. Apesar disso, aqueles que o conhecem no original falam sobre a experiência única que representa entrar em contato direto com essa obra, pelo modo como foi redigida e editada. Os rabinos registraram, com o mínimo de pontuação, os debates das academias. Com o objetivo de manter aceso esse debate, tiveram a ideia genial de observar o ritmo verbal, o que, se de um lado dificulta enormemente o acesso, de outro recupera o passado, que ressurge palpitante aos olhos e à inteligência da posteridade.
Com a publicação deste texto abre-se a possibilidade para o leitor brasileiro de entender finalmente o que é o Talmud. Com introdução histórica, um estudo sobre filosofia judaica e a tradução direta da fonte de trechos da obra, mais notas explicativas, que seguem as formas originais (o volume abre da direita para a esquerda), este livro surpreende pelo impacto e pelas áreas de interesse que abrange: da Religião à Filosofia, da Antropologia ao Direito e à Literatura, pois num sentido muito mais amplo antecipou o que viria a se chamar no século XX o “fluxo de consciência”, recurso literário definido por James Joyce. Ao contrário do que se pode imaginar, o estudo do Talmud jamais poderia ser comparado a um passeio por um museu de curiosidades antigas. É, um mergulho na atualidade.
Moacir Amâncio é poeta e jornalista. Como repórter do jornal o Estado de S. Paulo e da Rádio Eldorado viveu em Israel, onde estudou na Universidade Hebraica de Jerusalém. Seus livros de poemas Do objeto útil e Figuras na sala pertencem ao catálogo desta editora.