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No ensaio O horror sobrenatural na literatura, H.P Lovecraft dedica ao escritor galês Arthur Machen várias páginas de devotado fervor, assinalando que sua obra abriu novos caminhos para o gênero fantástico: "Dos criadores vivos do terror cósmico elevado ao seu mais alto expoente artístico, dificilmente poderá citar-se alguém que se iguale ao versátil Machen, autor de cerca de uma dúzia de composições longas e curtas em que os elementos de horror oculto e medo avassalador atingem uma substância e um realismo incomparáveis. (...) Os textos que produziu nos anos 90 e princípios dos 1900 não têm igual em seu gênero e marcam uma nova época da história dessa forma literária.
Com uma impressionável herança céltica ligada a vívidas lembranças juvenis de colinas agrestes, florestas seculares e míticas ruínas romanas da região rural de Gwent, Machen desenvolveu uma vida criativa de rara beleza, intensidade e inspiração histórica. Absorveu o mistério medieval de bosques sombrios e velhos costumes, e é em tudo um campeão da ldade Média — na fé católica inclusive. Da mesma forma cedeu ao encanto da vida britano-romana que em certa época floresceu na sua região nativa; e vê uma estranha magia nas vilas fortificadas, nos pisos de mosaico, fragmentos de estátuas e outras coisas que falam do tempo em que o classicismo reinava e o latim era a língua do país.
Mas o encanto de seus textos está na narração. É impossível descrever o crescente suspense e o supremo horror que estão em cada parágrafo, sem seguir a sequência exata em que Machen vai, aos poucos, desvendando os seus indícios e revelações. (...) Com suas palavras e ambientações, Machen constrói atmosferas de eletrizante tensão."
O romance O terror, escolhido para apresentar o autor, foi publicado em 1917; ambientado numa região afastada do oeste de Gales durante a Primeira Guerra Mundial, consegue uma perfeita simbiose de fantasia e realidade, lenda e cotidianeidade. Acontecimentos inexplicáveis de terrível violência, o poder contagioso das forças obscuras do mal e um clima de alarmismo bélico se fundem numa obscura e enigmática trama, suscetível das mais diversas conjecturas e interpretações. Ornamentos em jade, que encerra o volume, é um conjunto surpreendente de narrativas praticamente desconhecidas do leitor inglês contemporâneo. Editadas em 1927, nunca foram reimpressas, dado curioso para quem as ler, agora, em português.