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Vozes e Visões: Panorama da Arte e da Cultura Norte-americanas Hoje traz para o leitor brasileiro 19 entrevistas com figuras representativas do meio cultural norte-americano, como John Ashbery, Nam June Paik, John Cage, Laurie Anderson, Amiri Baraka, William Burroughs e Marjorie Perloff.
Nestes depoimentos, escritores, artistas plásticos, críticos e músicos discutem seus trabalhos e os rumos das linguagens artísticas em nossos dias, abordando temas como cultura pop e pós-modernismo, processo criativo e percepção, política e tecnologia.
Além da inteligência e lucidez com que debatem os mais variados aspectos da produção artística norte-americana contemporânea, um traço comum entre eles é o posicionamento crítico e reflexivo que mantêm com a cultura a sua volta. São antenas atentas, num mundo onde as experiências reais parecem estar sendo pouco a pouco substituídas por "imagens de experiências".
Eu sou professor de cultura latino-americana há mais de trinta anos. Durante todo este tempo tenho aprendi do muitas coisas sobre a América Latina, sobre os Estudos Unidos e também refletido sobre o meu lugar na fronteira entre estas duas grandes sociedades. Mas uma das coisas primeiras que aprendi é que, na América Latina, a presença da cultura norte- americana e o conhecimento das suas letras supera em proporções geométricas tudo o que se sabe no meu país sobre a cultura hispânica e portuguesa. Nas minhas viagens à América Latina e, pessoalmente, no encontro com os estudantes latino-americanos, que tenho o prazer de encontrar nas minhas aulas, minha surpresa é ainda maior frente a quantidade do que eles sabem sobre a minha própria cultura, até ao ponto de me sentir, às vezes, como criança de colo.
Esta sensação confirmou-se mais uma vez quando Rodrigo Garcia Lopes se apresentou na minha sala, primeiro por carta e ao telefone, depois como integrante da pós-graduação no programa de mestrado em Humanidades Interdisciplinares. Rodrigo veio para trabalhar comigo com um tema pontual da literatura norte-americana: a linguagem e a estrutura discursiva nos romances de William Burroughs, autor cujos papéis se arquivam aqui na Arizona State University e pedra angular no desenvolvimento de uma literatura contestatária e anti-patriarcal nos EUA. Mas, ao mesmo tempo em que Rodrigo perseguia seu programa de estudo e a gente conversava sobre as profundas audácias da escrita burroughiana, o brasileiro tinha outros planos para sua residência nos Estados Unidos: realizar a extensa empresa de entrevistas que o leitor agora tem na mão. Confesso que fico um pouco apavorado com o que Rodrigo pôde fazer em apenas dois anos nos Estados Unidos. Além de acabar dez seminários em Teoria Cultural e Tópicos Literários, escrever seus exames compreensivos e preparar uma tese magistral, teve tempo para entrevistar uma série de figuras culturais que constituem, literalmente, as eminências mais brilhantes da cultura norte-americana das últimas décadas. Ao dizer isto, tenho plena consciência de que, ao mesmo tempo está falando também de algumas figuras mais dissolventes de certo tipo de tradição predominante nos Estudos Unidos. A tradição branca, anglo-saxônica, protestante, capitalista, patriarcal, heterossexista, classista. A eminência destes nomes está no fato de conformarem as vozes contrarias ao regime estabelecido na América do Norte, sendo este definido não somente em termos de certa época partidária nos Estados Unido, senão também enquanto a certa concepção dirigente da vida sociocultural, certo código de ser cidadão político e certa ideologia de participação institucional na vida nacional. As figuras aqui entrevistadas são os artistas que veem a mentira no hino nacional, que entendem as fissuras na Constituição, que percebem as terríveis contradições no sistema patriarcal e (he-tero)sexista e que promovem programas culturais e estratégias artísticas para dar outra mostra da experiência norte-americana, diferente da oferecida pelos aparatos oficiais.
Convida-se o leitor a escutar com cuidado e atenção as perguntas inteligentes de Rodrigo e as enérgicas respostas dos entrevistados. Além da nossa pobre televisão comercial, além da propaganda interessada, além da publicidade internacional chatíssima, eis aqui o melhor da recente cultura norte-americana, que realmente vale a pena assimilar.
Dr. David William Foster
Regents' Professor
Arizona State University
Rodrigo Garcia Lopes nasceu em Londrina (Paraná), em 2 de outubro de 1965. É poeta, letrista e tradutor. Como jornalista, tem passagens pela Folha de S. Paulo e jornal Nicolau (Curitiba), sendo colaborador da Folha, Estadão e outros jornais do país, além das revistas Zone, Millenium - Film Journal e Hayden's Ferry Review (EUA). É tradutor de Sylvia Plath: Poemas (1991) e Iluminuras - Gravuras coloridas, de Arthur Rimbaud (com Maurício Arruda Mendonça). Em 1994, pela Iluminuras, lançou seu primeiro livro de poemas. Solarium. Atualmente prepara um novo livro de poesia e outro de traduções.